terça-feira, 5 de outubro de 2010

Meu Pequeno Heroi

Um dia chuvoso, frio e perturbado.
Ando pela rua e vejo um pequeno garoto, com aparentes 8 anos. Pequeno, triste e trêmulo.
Quando passo ao seu lado, ele me olha. Não com um olhar normal de um mendigo que pede caridade, ele me olhou com os mesmos olhos que eu olhava para minha mãe quando sentia medo dos trovões e relâmpagos.
Tento continuar e seguir meu caminho, mas não consigo, não consigo tirar meus pés do chão, minha cabeça estava confusa, imagens minhas se mesclando àquela que tinha visto, em minha mente. Paro por um pequeno instante e me pergunto: "Porque ele está ali? Abandonado, esquecido e solitário?"
Comecei a pensar o que fazer, quais riscos correria se tentasse ajudar aquela criança. Não conseguia me controlar, terríveis cenas, que a sociedade implanta em nossas cabeças, indo e vindo em minha mente. Os ridículos medos que temos pela maldita divisão social. O horrendo preconceito passava por dentro de mim. Me sinto a pior pessoa do mundo por pensar assim, por poder cogitar qualquer possibilidade de que aquele pequeno ser me faria algum mal.
Fecho meus olhos, respiro fundo e me viro. Olho para um lindo rosto, amedrontado e suspeito. Estendo minha mão e vejo um sorriso iluminando tais feições. Retribuo a gentileza e o convido para fazer um lanche. Seu sorriso aumentou de tal forma, a quase alcançar suas orelhas. Tiro meu casaco e o cubro por cima dos ombros. Agora, não conseguindo esconder meus dentes a mostra em um sorriso, sinto uma sensação gostosa subindo pelos meus pulmões e me pergunto se é assim que uma mãe ou um pai se sentem ao acolher um filho.
Chego a lanchonete, sem conseguir pronunciar ao menos uma palavra. Aponto para um pão-de-queijo e um chocolate quente. O garoto balança sua cabeça positivamente. Sentamos em uma mesinha perto da janela e reparo que todas as pessoas olhavam para meu pequeno acompanhante com olhar de desprezo. E finalmente, consigo lhe dizer algumas poucas palavras:
_Esse é o mundo em que vivemos. Um mundo que não aceita diferenças. Infelizmente.
_Eles pensam que são únicos. Mas já vi muitos iguais.
Surpreso, pois não esperava uma resposta, olho para o garoto que ali me falava e novamente meu corpo trava. Não consigo reagir nem explicar o que acontecia. Ele tinha consciência do que estava acontecendo, do que sofria. Então, porque não fazia nada?
O silêncio volta a prevalecer. Apenas os sussurros ao longe. Prováveis comentários fúteis e preconceituosos sobre meu pequeno e ,agora, sábio acompanhante.
Mil perguntas me vinham a cabeça, Por que você vive assim? Sua mãe te abandonou? Seus pais morreram? Você tem vontade de estudar? Mas nenhuma delas era pronunciada. Então penso em uma que, talvez, fosse a mais importante:
_Qual o seu sonho?
Ele para por um momento, engole um pedaço do seu pão-de-queijo e toma mais um gole de chocolate:
_Meu sonho? Acho que é tomar banho...
BANHO? Tantas coisas e pessoas importantes que nos fazem falta e ele me diz BANHO? Olho para ele curioso:
_Banho? Por que escolheria um banho?
_Pois talvez seja o banho que faça das pessoas, seres normais. Todos que vejo na rua, me desprezam. Acho que é porque sou sujo. Não sabem onde moro, ou o que faço, como podem me julgar? Queria poder tomar um banho para poder ser visto de outra forma. Para as pessoas olharem para mim e, talvez, sorrirem. Pessoas limpas se cumprimentam. Se abraçam e se beijam. Nunca ganhei um beijo, nem de minha mãe. Queria tomar um banho, para poder saber o que é um abraço e o que é um beijo. Não quero ser igual a eles_ disse passando o olho por toda lanchonete_ já existem muitas iguais. Só queria saber o que é ser amado ou ao menos querido por alguém.
As palavras me travam. Não consigo pensar. Não consigo me mover. Com os olhos fixos naquele pequeno ser.
Ajo por instinto, um reflexo que nunca é controlado. Me levanto, chego ao outro lado da mesa e dou um abraço no garoto dizendo:
_Essa é a sensação de ser amado e querido. Prazer, meu nome, é Pai!

2 comentários:

  1. Wow, minha prima é um gênio! Tão lindo, Giulinha! Quando lança seu primeiro livro? =)

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  2. ai giulinha. me lembrou aqueles contos de natal, sabe?
    imaginei a cena tão certinha na minha cabeça...
    liiindo, lindo!

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